O que temos não são bem saudades.
Não foi, ainda, inventada a palavra que descreve o que se sente agora.
É como se o futuro tivesse chegado de barco sem esperar ou garantir que tínhamos água para o receber. Sem nos dar tempo de procurar âncoras ou de limpar o lixo dos portos e dos cais.
Julgo que o que temos é muita, muita pena.
Pena de não ter ido.
De não ter feito.
De não ter dito.
De não ter acabado.
De não ter começado.
De não ter olhado para trás mais demoradamente.
O que temos não são bem saudades.
O que temos são mais… “lonjuras”.
Foi para longe tudo o que conhecíamos como certo.
Ardeu no ar, sem deixar cinza, a certeza dos planos e das listas de tarefas.
O que temos não são bem saudades.
De repente, tornámo-nos ignorantes de viver.
Não sabemos. Ninguém nos preparou. Ninguém nos prepara.
Voltamos a correr de um lado para o outro para recuperar a ilusão de quem julga ser dono da sua vida.
A mochila que levamos, ninguém a vê. Mas ela vai carregada.
Vai cheia de coisas que ainda não têm nome.
~ Marta Arrais